domingo, novembro 06, 2005 

Porquê alterar a Taxa de Juro?

O grande desafio que será colocado à União nos próximos tempos irá concentra-se em redor da definição de uma nova taxa de juro de referência, lembrando que actualmente está nos 2%.
A taxa de juro trata-se de um instrumento extremamente poderoso na política monetária de um país ou região influenciando toda a estratégia interna e externa de uma Economia pelas consequências que provoca na procura interna e na política comercial externa.

A determinação da taxa de juro é feita pelos bancos centrais dos países. No caso da União Europeia Monetária (UEM) a entidade responsável pela sua determinação é o Banco Central Europeu (BCE) e nos Estados Unidos da América é a Reserva Federal dos Estados Unidos (FED), tendo cada um os seus objectivos. O BCE utiliza a sua política monetária para regular a inflação, enquanto que a FED rege a sua política monetária com o principal objectivo de fomentar o crescimento económico, relegando para segundo plano o controle de pressões inflacionistas. É com estes pressupostos que teremos que analisar a política europeia e norte-americana.

É importante estar ciente das alterações que provêm de um aumento das taxas de juro:

1) Aumento dos custos das famílias em função dos empréstimos bancários associados ao crédito pessoal e ao crédito habitação;
2) Aumento dos custos para as empresas, pelo aumento dos custos associados aos empréstimos bancários, e a custos da mão-de-obra que reivindicarão salários mais elevadas como justificação do aumento do custo de vida;
3) Aumento do custo do dinheiro, contribuindo negativamente para as exportações e beneficiando os produtores nacionais pela redução das importações;
4) Provoca pressão sobre a inflação evitando o aumento sustentado e contínuo dos preços;
5) Favorece a entrada de divisas no território nacional.

Os dois primeiros pontos dizem respeito à política económica interna do país.
As empresas financiam-se por dois meios, por via de empréstimos bancários (financiamento indirecto) ou através da emissão de acções ou obrigações (financiamento directo) no mercado de capitais estando todos eles associados, no curto prazo, negativamente ao aumento da taxa de juro originado custos sobre a dívida mais elevados e financiamentos mais reduzidos. As famílias vêm os seus custos aumentarem, diminuído o seu poder de compra vendo como única alternativa a reivindicação de salários mais elevados.

Os últimos três pontos são consequências sobre a política comercial do país ou região.
Centrando a análise para a Europa, considero que com o aumento das taxas de juro iremos beneficiar de um Euro forte, sobretudo face ao dólar norte-americano, que é a moeda sob a qual é transaccionada uma grande parte dos produtos no mercado internacional.
Muitos questionam que um Euro forte face ao Dólar irá originar um forte entrave às exportações europeias para o resto do mundo, pois isso fará com que essas fiquem mais caras e por isso mais difíceis de exportar. Eu considero que esta consequência não afectará em larga escala a União Europeia a 25 membros (EU 25), isto porque, segundo dados do BCE de 2004, o total das exportações para fora da EU (25) tenha sido de 32%, enquanto que quando incluindo toda troca comercial na Europa, essa percentagem diminui para 27%, acrescentando a este facto, tem-se verificado uma tendência de decréscimo destes valores desde 2000.
Neste sentido, verificamos que o “motor europeu” depende maioritariamente da procura interna, tal como Portugal, cuja expansão económica depende apenas de 20% das suas exportações enquanto que os quase 70% da produção interna dependem do “ouro negro”, do petróleo, que é negociado em dólares norte-americanos.

Como tal, penso que com o aumento gradual da taxa de juro contribuindo para um Euro forte, a matéria-prima mais utilizada na produção irá ficar mais barata favorecendo o preço final dos produtos europeus, permitindo controlar a inflação originando que os consumidores vejam melhorar os seus níveis de vida.
Se aliarmos a uma produção e procura interna forte, uma entrada de divisas por via de investimento nos mercados financeiros ou mesmo em infra-estruturas atraídos por uma maior taxa de rendibilidade dos seus investimentos (a taxa de juro é vista como indicador da rendibilidade dos investimentos), isso irá criar níveis de confiança elevados (factor psicológico extremamente importante no comportamento económico dos agentes), maior taxa de emprego, aumento da produtividade e por conseguinte mais riqueza para todos nós.

Perante a mentalidade e os princípios para o qual foi criado a União Europeia e o Banco Central Europeu, a inflação é o “alvo a abater” e por isso a política monetária pelo aumento da taxa de juro, neste momento, deverá ser o caminho a seguir em resposta à nossa imensa dependência das matérias primas, com principal ênfase sobre o petróleo que acabam por influenciar o preço de quase todos os outros produtos.

Se me perguntarem se concordo com a política do BCE, direi que não concordo com a hierarquia que coloca aos seus objectivos, que se resume pelo controlo da inflação, considero tão importante como esse, a preocupação sobre o crescimento económico, sendo o BCE um pilar fundamental e prioritário sobre a estratégia económica da União, passando desde logo por uma maior flexibilidade dos princípios do PEC (Plano de Estabilidade e Crescimento), nomeadamente sobre a conjectura da dívida externa e do défice público de forma a não se tentar cumprir objectivos tomando decisões não planeadas, não querendo dizer com isto que acredito numa total anarquia de limites, muito pelo contrário, acredito é que esses limites devam ser revistos caso a caso com o intuito de nos tornarmos numa Europa mais homogénea e compacta pois temos que aceitar que hoje, a Economia Europeia ainda é bastante desigual entre os seus membros e por isso, é urgente rever os objectivos e princípios da UEM com o intuito de permitir o desenvolvimento sustentável e consolidado dos Estados-Membros.

lmleitao

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