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quarta-feira, maio 25, 2005 

A Importância do Microcrédito

Depois de ter entrado num projecto sobre o financiamento ético desenvolvido pela organização não governamental OIKOS, gostaria de partilhar convosco um pouco do meu conhecimento, apesar de ainda pouco maduro, sobre um tema que considero importantíssimo para a actualidade e para os anos que se avisinham.
Irei expor um pouco sobre o meu ponto de vista sobre um instrumento que considero fundamental para combater e erradicar a pobreza no mundo, irei tentar mostrar-vos o que é e como é essencial desenvolver o Microcrédito nos nossos dias.

O Microcrédito é uma política de financiamento recente, criada e colocada em prática em 1976 pelo primeiro e maior banco ético do mundo, Grameen, pela mão do economista Muhammad Yunus no Bangladesh.
Consiste numa política baseada na concessão de pequenos empréstimos a cidadãos sem quaisquer possibilidades de obterem esses empréstimos junto das instituições financeiras comuns, pois não têm garantias que sirvam como efeito colateral sendo considerados pelo sistema financeiro formal como “clientes incobráveis”.
Este conceito foi levado avante por Muhammad Yunus que lutou bastante para que esta política fosse levada em consideração para erradicar a pobreza no mundo mas também como uma forma de “os pobres ganharem dignidade humana, felicidade pessoal, auto-realização, sentido da vida, mas de uma forma que todos este objectivos sejam atingidos pelo trabalho das próprias pessoas”.

O Microcrédito à primeira vista parece-nos assustador, pelo simples facto de pressupor que emprestamos dinheiro a pessoas pobres, sem estas terem no imediato qualquer possibilidade de nos pagarem nem nos darem qualquer garantia, juntando ainda o facto de estes empréstimos serem praticados com taxas de juro superiores a 20%. Se à primeira vista, parece-nos um 'poço sem fundo' para quem recorre a este 'serviço', quando estudamos de perto, chegamos à conclusão que o microcrédito tem tudo para ser um instrumento ético para proporcionar o desenvolvimento local e regional.
Para quem empresta, determinados valores são extremamente animadores, nomeadamente a taxa de retorno dos empréstimos, apresentando taxas superiores a 95%, o Grammen apresenta uma taxa estupenda de 98%, são geralmente empréstimos a um ano e com prestações mensais que chegam a menos de 25 dólares americanos. Este sucesso é explicado por Muhamman Yunus porque, segundo ele, “os pobres sabem que essa é a única oportunidade que têm para escapar à pobreza. Se forem excluídos deste sistema de empréstimo, como poderão sobreviver?”, chegando mesmo a apresentar uma certa comparação com o sistema financeiro comum, pois tomara qualquer banco da nossa praça apresentar taxas de retorno desta envergadura, “Por outro lado, as pessoas mais abastadas não se interessam por aquilo que a lei lhes possa fazer, pois sabem como manipulá-la. As pessoas que estão no fundo da escala têm medo de tudo; portanto querem fazer as coisas bem porque a isso são obrigadas”.

O caso do Grammen é um caso de sucesso que tem vindo a crescer por todo o mundo por via de instituições ligadas a si, com especial foco em regiões pobres com especialmente em vários países africanos, asiáticos e ao longo da Europa do leste. O exemplo da Polónia com a instituição Fundusz Mirkro, uma fundação que pretende ser financeiramente auto-suficiente, é dirigida por uma antiga funcionária da JPMorgan e formada na Warton School of Business que até então não concedia empréstimos inferiores a 100 milhões de dólares, teve a coragem de assumir as “rédeas” deste projecto no seu país Natal por considerar que era disto que a Polónia precisava. Mas também em alguns países desenvolvidos como é o caso demarcado da Women’s Self-Employment Project (WSEP) em Chicago que tem feito um papel importantíssimo na erradicação da pobreza nas regiões urbanas, bem como por toda a Europa encontramos várias instituições com este carisma, de assegurar micro empréstimos aos cidadãos, em França, Finlândia, Noruega, Suécia e até mesmo em Portugal pela Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC). Mesmo por toda a Europa

Ao tomarmos em consideração todos os locais e regiões que foram criadas, na generalidade dos casos com sucesso, instituições de micro-financiamento (MFI), podemos concordar com Yunus que afirma, “considero que o microcrédito tem aplicações quase universais. Estou convencido de que o crédito é um instrumento universal que liberta as capacidades humanas. A nossa experiência desde o Ártico até aos Andes, de Chicago até à China, demonstra que o modelo Grameen não se limita à cultura do Bangladesh para ter sucesso”.
É necessário salientar o facto, de inicialmente estas instituições necessitarem de doações, ajudas monetárias, pois não têm quaisquer capacidades financeiras de concederem empréstimos, é então que entra a responsabilidade social das grandes empresas e dos governos (apesar de o apoio público não ser visto com muito bons olhos por Yunus, pois interferem com muitas burocracias e interesses que vão mais além dos interesses económicos) para ajudarem estas instituições a lançarem-se no mercado.
O mais interessante deste fenómeno, para nós portugueses, é que as nossas empresas e sociedade em geral já começam a denotar algum interesse neste aspecto.

• A ANDC e apoiada pelo Instituto do emprego e Formação Profissional (IEFP), tendo vindo a apresentar resultados animadores ano após ano, após 2002 ter sido um ano menos bons com um prejuízo de 40.000 euros (o equivalente às receitas de dois anos de quotas e donativos) no que respeita na “parceria da ANDC em dois projectos Equal (Câmara de Loures e Aliende – no Alentejo) e no campo externo, participaram na elaboração do projecto de construção do Centro de Recursos do Microcrédito para a Europa Ocidental, bem como em diversas outras iniciativas lançadas pelas nossas congéneres da UE”.

• O Millennium BCP lançou em 2000 uma experiência pioneira em Moçambique com o Novo Banco, tendo hoje mais de 9 mil clientes e mais de 8 milhões de euros colocados, a uma taxa média de 5% ao mês e depósitos a prazo com taxas muito competitivas e em Portugal é a principal instituição financeira a fomentar o microcrédito

Ao observar esta realidade concluo que o microcrédito deixou de ser um sonho e um problema regional, passou a ser um meio internacional de enfrentar e erradicar a pobreza mundial, segundo princípio éticos mundialmente aceites. Se nos “confins do mundo” na mais remota das aldeias do Bangladesh, Yunus privilegiava os empréstimos a grupo de pessoas, de forma a que todos ficassem responsáveis pelo cumprimento de pagamento de todos, e privilegiava conceder créditos às mulheres por considerar que elas são o sexo que mais promove o desenvolvimento colectivo, “(…) se por um lado, o homem tem uma escala de prioridades na qual não consta a família no topo. Quando um pai indigente ganha algum dinheiro, começa por dar atenção a si próprio (…) Quando uma mãe indigente começa a ganhar algum dinheiro os seus sonhos invariavelmente concentram-se nos filhos. A segunda prioridade da mãe é o lar. Quer comprar utensílios, construir um telhado mais forte e melhorar as condições de vida da família”. Na cidade esta realidade não descura muita deste exemplo, apesar de ter algumas reticências quanto aos “pobres citadinos”, pois a sociedade urbana apresenta problema sociais bastante profundos, como é o caso da criminalidade, toxicodependência e alcoolismo que podem colocar em causa este sistema financeiro alternativo quando não é colocado em prática da forma mais correcta.

Acredito que o microcrédito “não é apenas um instrumento para gerar receitas, é uma poderosa arma de mudança social, uma maneira de dar um novo sentido à vida das pessoas”, como afirma Yunus. É um factor que à primeira vista “afugenta” os mais conservadores, como afugentou as primeiras mulheres Bengalesas a quem se dedicaram os primeiros micro empréstimos pelo Grameen, mas que no curto e médio prazo são de facto bastante relevantes na vida social das pessoas e do próprio país.

Espero que com este pequeno relato feito a partir de um trabalho por mim elaborado, ter passado a mensagem de que o microcrédito é um veículo capaz de procriar esperança e erradicar a pobreza junto dos povos mais pobres e junto de todos aqueles que tenham ideias viáveis e que queiram realmente alterar o rumo da sua vida!
Toda esta informação aqui expressa, foi obtida por via de informação disponibilizada pela OIKOS, pela ANDC e ainda pelo livro “Banqueiro dos Pobres” escrito por Muhammad Yunus, que recomendo vivamente a todos os interessados nesta matéria a lerem.

lmleitao

Muitos parabéns pelo seu blogue e pelos artigos interessantes que vem a desenvolver.
Quanto ao tema do Microcrédito, achei bastante interessante o seu ponto de vista mas tal como finaliza o seu texto também tenho grandes reticências quando aplicado em regiões urbanas, apesar de alguns artigos da ANDC e os exemplos expressos no livro de Yunus contradizerem isso mesmo, demonstrando vários exemplos de sucesso quer em regiões rurais ou urbanas.

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